Dona Maria entra com 62 anos, rugas e manchas de sol, e um sorriso simpático. Vem porque os eosinófilos, um tipo de células branca, subiram muito. Conta que sempre foi alérgica, passou a vida com asma, até que um dia a medula passou dos limites. Os eosinófilos atacaram coração, nervos da perna, pulmão. "Mas agora To controlada" diz, encerrando sua história.
Enquanto os acadêmicos anotam o prontuário, Maria suspira e comenta:
"Queria ser uma dessas velhinhas das pernas boas, dançante, mas aí vem as doenças e puxa o tapete da gente."
"Então a senhora gostava de dançar?"
"Gostava" confirma Dona Maria "Dançar aquele forró arrasta pé era bom demais! Não danço mais porque os nervos das pernas não deixam mais né."
"E será que não dá pra dançar de levinho?" sugere o acadêmico em ato reflexo, desejoso de estimular a alegria da paciente.
Dona Maria ri um riso de criança sapeca, e abaixa a voz, como revelando um segredo "de levinho danço! Na formatura da minha filha ela me puxou pra dançar, dois passos pra cá e pra lá."
"Devagarinho né?"
"Exatamente! Falei com ela, só não pode rodopiar, tem que ficar só nos dois passos, devagarinho!"
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