sexta-feira, 3 de março de 2017

O rei caminhoneiro


Tem já quase setenta, vem pra acompanhamento da pressão alta. Quando pergunto como passa desde a última consulta, começa com a voz meio arrastada, meio timidez:
 - Ah, doutor, olha eu vou contar a verdade né - olha em volta - desde domingo to sentindo uma dor aqui *e aponta a parte baixa da barriga* e nos testículos. Mas vou falar a verdade, to há cinco anos que o amigo de baixo já é defunto...
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Mais tarde, examinando o senhor, diagnosticamos uma provável Orquite. O preceptor, embora não haja nenhum sintoma para desconfiar da doença, decide por perguntar:
- E gonorréia, já teve?
- Doutor, eu fui caminhoneiro. No Rio de Janeiro era conhecido como Rei da Gonorréia.
Rimos com o paciente. Em minha cabeça, me lembro do romance Menino de Engenho, e de que essa doença sexualmente transmissível já foi vista por muitos como atestado de virilidade. Nosso paciente é homem do mundo e, não duvido, tem certo orgulho do título. No fim, somos orientados a receitar remédio para os dois, gonorréia e orquite. Só por segurança.

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