sexta-feira, 3 de março de 2017

Dor nas costas

Senhora de 52 anos, vem ao ambulatório de nefrologia por causa da pressão alta. Anda devagar, cabeça baixa, carregando um casaco de crochê que lembra aqueles de vó.
É um caso simples. Conta que mede a pressão no posto, e vai bem. Perguntamos de outras queixas, mas a princípio não existem. Tudo parece incrivelmente simples. Em silêncio penso que apenas teremos de renovar a receita. Mas ao fim da consulta médica, aprendemos, deve sempre haver uma última estruturada e curiosa pergunta:
- Existe alguma coisa que não perguntamos e a senhora deseje falar?
- Não, nada não... *a paciente hesita, e percebendo, aguardamos* Bem, tem a dor nas costas, mas isso é antigo, e por causa da filha né
- Por causa da filha? - incitamos a senhora a continuar
- É, minha filha é paralítica desde criança e faz hemodiálise. Ela já tá com 17 anos e tá pesada, e como eu que ajudo no banho, que boto e tiro ela da cadeira, as costas doem né...
Nós acadêmicos ficamos um momento sem resposta. Uma simples pergunta, e descortina-se uma dor nas costas já velha amiga, que por pouco a paciente não esquece de falar. Do tipo que não basta renovar a receita para (tentar) tratar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário