Senhora de 52 anos, vem ao ambulatório de nefrologia por causa da pressão alta. Anda devagar, cabeça baixa, carregando um casaco de crochê que lembra aqueles de vó.
É um caso simples. Conta que mede a pressão no posto, e vai bem. Perguntamos de outras queixas, mas a princípio não existem. Tudo parece incrivelmente simples. Em silêncio penso que apenas teremos de renovar a receita. Mas ao fim da consulta médica, aprendemos, deve sempre haver uma última estruturada e curiosa pergunta:
- Existe alguma coisa que não perguntamos e a senhora deseje falar?
- Não, nada não... *a paciente hesita, e percebendo, aguardamos* Bem, tem a dor nas costas, mas isso é antigo, e por causa da filha né
- Por causa da filha? - incitamos a senhora a continuar
- É, minha filha é paralítica desde criança e faz hemodiálise. Ela já tá com 17 anos e tá pesada, e como eu que ajudo no banho, que boto e tiro ela da cadeira, as costas doem né...
Nós acadêmicos ficamos um momento sem resposta. Uma simples pergunta, e descortina-se uma dor nas costas já velha amiga, que por pouco a paciente não esquece de falar. Do tipo que não basta renovar a receita para (tentar) tratar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário