"E também não tenho dormido muito bem..." deixa escapar de ultima hora. Começo, passo a passo, a perguntar do sono, da ansiedade, da vida. Diz que chora as vezes, que acorda e fica deitada pensando no marido e nos irmãos que já se foram. Fala que a vizinha toma um remédio pra dormir que experimentou e deu certo. Logo me alarmo.
Os "zepams" da vida, usado por muitas pessoas com problemas de sono, são grandes vilões disfarçados. Nublam a mente, diminuem os sentimentos, e quando se usa por muito tempo, começam a apagar a memória em uma demência causada por remédio. Muita gente usa. Muita gente adora cair na paralisia pacífica da droga.
"Dona Marilda, vou conversar com o médico, mas acho que podemos pensar em um fitoterápico, talvez um remédio para depressão leve que vá ajudar no sono de outro jeito" falo, já tentando evitar a armadilha de ceder ao uso de Clonazepam para insônia.
"E a senhora sente algo mais?"
A paciente hesita, e aguardo.
"Queria um creme também doutor. To muito ressecada"
"A pele, Dona Marilda?"
"Não não" e ri sem graça "para ter relação. É que como to muito sozinha procurei sabe, aí conheci um moço... mas doeu muito..."
Rio por dentro, tentando não rir por fora. Rio não de Dona Marilda, aos 75, querendo um creme para manter a vida sexual bem funcionante, isso é na verdade lindo. Rio por alivio, Dona Marilda já sozinha encontrando caminhos para fora de sua possível depressão, vivendo a vida, conhecendo um moço novo. Rio porque ao invés de um Zepam, trataremos de Marilda com creme vaginal, quiça o bom e conhecido KY.
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