Luiz, 21 anos, cabelos loiros colados de suor, aguarda no corredor ser chamado a consulta. Curva-se quase em posição fetal, enquanto tosse muito. Quando o médico abre a porta para chamá-lo, o agente de saúde primeiro conta
“Ele me deu a liberdade de te contar doutor que trabalha na boca lá em cima do morro, e que pega muita friagem e cheira pó as vezes”
O médico acena que entendeu e chama Luiz para entrar. Já o atendeu antes, por uma crise de asma, mas na primeira consulta nada foi falado de seu histórico.
“O que aconteceu Luiz?”
“Tossindo muito. To muito mal, não consigo mais sair de casa. Toda hora tosse. E sai um catarro até preto as vezes. Acho que to com febre Nem to conseguindo ir pro role.”
“Há quanto tempo?”
“2 meses”
“E emagreceu?”
“Muito. 14 quilos, perdi os músculos todos. To fraco, não saio de casa direito.”
O médico pensa em tuberculose, e em como será difícil tratá-lo. Faz algumas outras perguntas, e por fim entra no sigiloso assunto de seu trabalho.
“O agente me contou que você trabalha na boca Luiz”
“Sou, eu fico na tocaia da noite. Mas nem to indo mais não, não dá. Os cara mesmo falaram ‘vai pra casa, se trata, resolve isso aí’”
“E é tranquilo pra você ficar afastado?”
“Pô, lá é todo mundo parceiro, crescemos juntos. Falaram que até vão me pagar se precisar de alguma coisa, remédio, mesmo eu não trabalhando. É muita confiança, os caras lá são gente boa.”
“Ele me deu a liberdade de te contar doutor que trabalha na boca lá em cima do morro, e que pega muita friagem e cheira pó as vezes”
O médico acena que entendeu e chama Luiz para entrar. Já o atendeu antes, por uma crise de asma, mas na primeira consulta nada foi falado de seu histórico.
“O que aconteceu Luiz?”
“Tossindo muito. To muito mal, não consigo mais sair de casa. Toda hora tosse. E sai um catarro até preto as vezes. Acho que to com febre Nem to conseguindo ir pro role.”
“Há quanto tempo?”
“2 meses”
“E emagreceu?”
“Muito. 14 quilos, perdi os músculos todos. To fraco, não saio de casa direito.”
O médico pensa em tuberculose, e em como será difícil tratá-lo. Faz algumas outras perguntas, e por fim entra no sigiloso assunto de seu trabalho.
“O agente me contou que você trabalha na boca Luiz”
“Sou, eu fico na tocaia da noite. Mas nem to indo mais não, não dá. Os cara mesmo falaram ‘vai pra casa, se trata, resolve isso aí’”
“E é tranquilo pra você ficar afastado?”
“Pô, lá é todo mundo parceiro, crescemos juntos. Falaram que até vão me pagar se precisar de alguma coisa, remédio, mesmo eu não trabalhando. É muita confiança, os caras lá são gente boa.”
Após breve hesitação, o médico registra no prontuário ‘paciente com boa rede de apoio em trabalho.’ Segue a consulta abordando o uso de drogas e a importância de Luiz ficar sóbrio, finalizando com os pedidos de exame para tuberculose. O paciente agradece a atenção, promete se comprometer com o tratamento. Quer ficar bem para andar de moto, que gosta muito. Na cabeça do médico um trecho da música de Criolo - as pessoas não são más, elas só estão perdidas.
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